A telegrafia ótica

A telegrafia óptica é um processo de transmissão em que o receptor é o olho humano. Ao longo dos tempos, diversos processos, códigos e sistemas foram usados na telegrafia óptica. Em Portugal, abandonados já pelo Exército os semáforos e os telégrafos de Ciera (que tinham sido largamente usados a partir do final da primeira década do séc XIX), foram três os tipos de aparelhos mais usados no principio do séc XX:

Bandeiras
As bandeiras regulamentares, sempre usadas aos pares, eram constituídas por uma haste de madeira com 56 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro, com um torneado com 20 cm de comprimento e 3 cm de diâmetro na base, e por um pano de algodão com 40×36 cm, com uma faixa central vermelha e os extremos de côr branca. As 3 faixas tinham a mesma largura, 12 cm, e a bandeira pesava 310 g, segundo o regulamento de 1930. Podia usar-se o código Morse, o que já era raro, ou o alfabeto homográfico. No caso de ser usado o primeiro, o traço era transmitido pelo R do alfabeto homográfico, e o ponto pelo B.

Nota: As bandeiras foram utilizadas para transmitir sinais desde tempos imemoriais. As acima referidas são as últimas que foram regulamentadas, mas muitas outras houve. Por exemplo, aquando da GG, eram as seguintes as bandeiras utilizadas, também aos pares (note-se a faixa vermelha muito mais estreita):

Mas antes, no final do séc XIX (1896), o Manual do telegraphista militar em campanha estipulava como norma que estas deviam ser formadas por um panno de 1,20 m de comprimento e 0,90 de altura bipartido no sentido transversal em duas côres, branca e encarnada, e fixo no topo de uma haste de 2,0 m de comprimento e 0,03 m de diametro. Na altura apenas se usava o código Morse, com uma única bandeira, sendo as posições para o ponto e o traço as aqui referidas.
Como curiosidade adicional, nessa altura (final do séc XIX) também se utilizavam ArchotesQuadros na telegrafia óptica para a transmissão dos códigos Morse.
Estes eram constituídos por uma armação de quatro barras de ferro de cerca de 0,50 m de comprimento e 0,015 m de diametro articulados por arrebites nos extremos formando quadrado, munido de um cabo e revestido n’uma das faces por um panno branco e na outra por um panno encarnado. O ponto era transmitido por apenas o braço direito na horizontal, enquanto o traço o era por ambos os braços. O branco era usado com fundos escuros, de contrário usava-se o encarnado. A posição de descanso era com ambos os quadros sobrepostos, descaídos à frente e a meio do corpo.
Quanto aos Archotes, eram formados por um tubo metallico que se adapta à haste de uma bandeira, cheio de estopa embebida em essencia de terebenthina. Os sinais de Morse podiam ser feitos com apenas um archote (neste caso empregue como no manejo da bandeira), ou com dois (manejados como os quadros).
Finalmente, de referir ainda a utilização de lanternas (de secção quadrada, munidas de lâmpadas de petróleo, tendo a face da frente envidraçada e coberta exteriormente por umas persianas móveis de folha, com uma mola) e aparelhos ópticos Mangin, mas estes serão tratados em artigo próprio.

Heliógrafos
Aparelhos destinados a produzir sinais pela reflexão dos raios solares. Nos anos 30, o aparelho regulamentar distribuído às Unidades era o heliógrafo de Mance, constituído por um espelho redondo, um suporte para o porta-mira, porta-mira, espelho auxiliar e tripé (anteriormente, a partir de 1884, fora muito usado o heliógrafo Martins, mais adequado a instalações fixas). O espelho transmissor não tinha estanho num pequeno circulo central e o seu movimento era em torno de 2 eixos perpendiculares. Para o manobrar, na inclinação, existia um parafuso de haste que permitia movimentos lentos e que era necessário soltar quando se pretendia de início ajustar por movimentos de maior amplitude. Para movimentos lentos de azimute, havia um parafuso tangencial. Depois de cuidadosamente alinhados os espelhos dos dois postos (o centro de cada espelho, a imagem do ponto de mira e a imagem do posto correspondente colocados na mesma linha reta), para transmitir, começava-se por baixar ligeiramente o espelho, a fim de que só carregando no manipulador se veria luz no posto receptor. Um clarão curto era um ponto e um clarão mais longo um traço, usando portanto o código Morse. Por vezes a posição solar obrigava ao uso do espelho auxiliar, que passava a ser o que ficava na direcção do posto correspondente. O alcance, com tempo limpo e usando binóculos, era da ordem dos 50 Km.

Lanternas de sinais
As lanternas regulamentares eram as lanternas Lucas, com ligeiras alterações relativamente ao modelo usado pelos ingleses (anteriormente tinham também sido muito usados os aparelhos Mangin, de muito maior porte).  Eram compostas por uma caixa de madeira com 2 compartimentos, um para o projetor, suportes, discos coloridos e tampa do transmissor; o outro continha uma pilha de 12 V e uma caixa de sobresselentes. O projetor era um tambor cilindrico fechado, dum lado por uma calote esférica e do outro por uma tampa envidraçada. No fundo, havia um espelho lenticular em cujo foco estava a lâmpada. Por cima encontrava-se o tubo visor (mira). Os discos eram de duas espécies – 3 de côr, de celuloide (amarelo, vermelho e verde)  e 1 disco de noite (para obturar mais ou menos a saída do feixe luminoso). Era o posto correspondente que determinava a escolha do disco, consoante as condições de visibilidade. O transmissor Morse era fixo na tampa do compartimento do projetor, do lado das tomadas de corrente da pilha. A lanterna podia ser colocada, ou na estaca própria, ou no tripé do heliógrafo de Mance. O alcance ia dos 4 Km, de dia, aos 8 Km, de noite.