MGen Pena Madeira

AS TRANSMISSÕES NO 25ABR74

O TRAJECTO E O LANÇAMENTO DO CABO TELEFÓNICO PARA O PC DO MFA

Sobre o 25 de Abril de 1974, muito já foi escrito, quer sobre o desenrolar das operações militares, quer sobre o desenvolvimento dos acontecimentos posteriores. O que agora me proponho apresentar, tem a ver com a descrição mais pormenorizada de um conjunto de actividades de Transmissões que antecederam aquele dia e que apesar de divulgadas, são susceptíveis de informação complementar.

Começo por afirmar, por ser essa a minha convicção, de que a primeira operação militar no âmbito do 25ABR74, foi uma operação de Transmissões, e que consistiu no lançamento do cabo telefónico de 5 pares, entre os Pupilos do Exército e o PC do MFA instalado no RE1, na Pontinha.

A preparação e a conduta desta operação, encontram-se descritas com bastante pormenor no documento manuscrito, de que se junta uma cópia, que me parece  suficientemente legível. Este documento tem estado à guarda do TGen Fialho da Rosa, que recentemente o disponibilizou à CHT. O TGen Fialho da Rosa, naquela altura Capitão Eng Tm, era o representante da Comissão Coordenadora do MFA na Escola Prática de Transmissões, a funcionar naquela data no Quartel dos 4 Caminhos, em Sapadores,  onde actualmente se alberga o Regimento de Transmissões. É nesta qualidade que ficaram na sua posse diversos documentos, e de entre eles, aquele que  hoje se apresenta.

Quem escreveu este documento foi o então Cap Eng Tm Veríssimo da Cruz, Chefe do Serviço TPF (Telefonia Por Fios) poucos dias depois do 25ABR. O outro Oficial do Serviço TPF, referido no documento, era o então Cap Eng Tm Pena Madeira, que desempenhava as funções de Adjunto do Serviço TPF.

Julgo que o documento é muito claro e explica muito bem o andando dos acontecimentos a partir do momento em que foi apresentado o requisito de ampliar a capacidade telefónica automática no PC do MFA. Apesar disso, julgo que poderá ter interesse complementar, sendo de referir ainda os seguintes aspectos:

– O Chefe da equipa de Guarda-fios que realizou este trabalho, foi o então Furriel Milº Cedoura; pessoalmente gostaria que este senhor contactasse aCHT, para em comum podermos reviver a angústia da incerteza que nos acompanhou naquela operação;

– No âmbito do Serviço TPF, foi entendido que o adjunto acompanhasse os trabalhos de instalação, consolidação e os ensaios de continuidade do cabo telefónico, uma vez que se tratava de uma operação clandestina, com um tempo de execução muito para além do horário da actividade normal, e por esse facto poder levantar eventuais  suspeições por parte designadamente do Serviço de Informações do Estado, a PIDE. Se tal facto se viesse a verificar, este acompanhamento destinava-se a eu próprio assumir a responsabilidade de todas as actividades em curso, no âmbito do Serviço TPF, e desta forma salvaguardar a posição do Fur Mil Cedoura;

– Já existia ligação por cabo subterrâneo em condutas entre a EPT, o QG/RMLe os Pupilos do Exército. Foi por isso, a partir desta Instituição, que de forma rápida e expedita foi lançado o cabo telefónico aéreo, nas condições muito bem descritas no documento.

– Foram passados “shunt’s” nos repartidores telefónicos do QG/RML e dos Pupilos para dar continuidade aos 5 circuitos entre a Pontinha (PC do MFA) e a EPT. Os ensaios de continuidade foram efectuados nos repartidores telefónicos da EPT, do QG da RML, dos Pupilos do Exército e do RE1. Nos repartidores da EPT e do RE1, também foram passados “shunt’s”: no caso da EPT, entre a chegada dos 5 pares do exterior e os 5 circuitos no interior da central telefónica, 4 ligados à central automática  e um ligado ao telefone ponto a ponto; no caso do RE1, os mesmos 5 pares foram ligados a 4 telefones automáticos, e um ao telefone ponto a ponto. No RE1, a continuidade e os ensaios foram efectuados na tarde do dia 24 cerca das 17H30, hora a partir da qual aquele requisito operacional ficou estabelecido;

– Como naturalmente se entende, o lançamento deste cabo telefónico constituiu uma operação militar de risco, que no caso de ser detectada poderia comprometer o desencadear das operações naquela data;

– Posteriormente veio a constatar-se que esta ligação constituiu um contributo muito importante, senão mesmo decisivo para o Comando e Controlo das operações desencadeadas em 25ABR74.

Pena Madeira, MGen Ref.

Anexo:

– Documento manuscrito da autoria do Cap Eng Tm Verissimo da Cruz

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6 comentários a “MGen Pena Madeira

  1. O Ten (ManTm) Domingos Simões Vaz um grande técnico em equipamentos de campanha e equipamentos fixos do STM esteve sempre disponível nesta operação, ele que é um antigo aluno dos Pupilos do Exército e formado em Direito. Um homem da “Manutenção” que felizmente não é esquecido, ao contrário de tantos outros que deram a sua contribuição para o 25 de Abril de 1974.

  2. Também considero que o Anexo Transmissões à Ordem de Operações, logo que seja possível fazer sua digitalização, deveria ser publicado no Blogue.
    No entanto este Anexo já se encontra publicado no livro “A Alvorada de Abril” de Otelo Saraiva de Carvalho, de 1977.

  3. Outro documento que talvez tivesse interesse histórico seria o tão famoso “Anexo de Transmissões ao Plano Geral das Operações”. Poderia este importante documento ser disponibilizado?

  4. Felicito vivamente o Pena Madeira e o Veríssimo da Cruz pelos registos que aqui introduziram pois estes registos completam e complementam o texto contido no nosso livtro “As Transmissões Militares – da Guerra Peninsular ao 25 de Abril” com o pormenor histórico com que aquela data deve ser conhecida, sobretudo pelo pessoal da nossa Arma.

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