Os SCR-508; 528; 608 e 628

Post do nosso leitor Sr. João Freitas, recebido por msg:

Vamos tratar de mais um caso complicado, quanto mais não seja por englobar diversas nomenclaturas. Como no caso do AN/GRC-3 a 8, os aparelhos que hoje tratamos são passíveis de várias conjugações jogando com duas gamas de frequências e duas tensões de alimentação. Serão essas duas gamas de frequências e a adição ou subtração de componentes a determinar as suas diferentes identidades. Exteriormente os seus componentes são bastante similares conforme as funções.

Conjunto dos diversos elementos falados no texto

De origem americana, todos estes aparelhos datam do último conflito mundial (1939/1945), equipando nessa altura a maioria dos blindados e veículos de comunicações americanos intervenientes nessa guerra. Sendo rádios de muito boa qualidade, chegam a Portugal a meio dos anos cinquenta, fornecidos nos acordos NATO, havendo provas fotográficas do seu uso nos primeiros anos da guerra em África.

Um SCR-508 montado numa Dodge WC-51 nos primeiros tempos da Guerra Colonial em Angola. É curiosa a proteção feita em caixa de madeira e terra.

O seu toque a recolher dar-se-á nos últimos anos da década de sessenta. A nossa Força Aérea chega a equipar algumas das suas aeronaves (de dois ou quatro motores) com rádios deste tipo!

Todos os recetores e transmissores desta série operam em FM (fonia) numa gama compreendida entre os 20MHz e os 38.9MHz. Bem, como temos que começar por um lado entendemos que devemos ir aos alicerces, aí encontramos uma base (ou suporte veicular) sobre a qual todas as hipóteses podem ser consideradas, falamos da base “MT-237” (MT=MOUNTING). Pesadíssima, compreende todas as ligações necessárias para a fonte de energia primária (baterias de automóvel de 12 ou 24v), antenas, ligações para dois recetores, um transmissor e suas respectivas fixações, além de fusíveis ativos e de reserva, assim como aberturas para diversa manutenção. Este suporte é impressionante pelo seu tamanho e extrema robustez. Outras bases mais pequenas existem para esta serie de rádios, também elas usadas em Portugal, mas esses sistemas encaixam já sob a designação “AN/VRC”, sobre eles falaremos em outro artigo.

Como já aflorámos, sobre o “MT-237”, podem-se colocar múltiplas conjugações de recetores, transmissores e acessórios como passaremos a descrever.

Conjunto SCR-508, ou SCR-608 (dependendo da gama de frequências)

Conjunto SCR-528, ou SCR-628 (dependendo da gama de frequências)

Constituições “SCR” (Set Complete Radio) possíveis:

SCR-508: Constituído por um emissor BC-604 e dois recetores idênticos BC-603 sobre uma base MT-237.

SCR-528: Constituído por um emissor BC-604 e um recetor BC-603 sobre uma base MT-237.

SCR-608:Constituído por um emissor BC-684 e dois recetores idênticos BC-683 sobre uma base MT-237. (versão também usada pela F.A.P.)

SCR-628: Constituído por um emissor BC-684 e um recetor BC-683 sobre uma base MT-237.

(Destes “SCR” faziam parte um vasto leque de outros componentes. Apontamos apenas os mais importantes)

Elementos “BC” (Basic Component) constituintes:

 

O recetor BC-603, ou BC-683

 

Recetores BC-603: Frequências de 20 a 27.9 MHz., com alimentação primária a 12v com o dínamo DM-34 ou a 24v com o dínamo DM-36.

Recetores BC-683: Frequências de 27 a 38.9 MHz., com alimentação primária a 12v com o dínamo DM-34 ou a 24v com o dínamo DM-36.

(Estes dois recetores tinham sintonia corrida ou dez frequências pré-sintonizadas acionadas por teclas.)

 

 

 

O emissor BC-604, ou BC-684

Transmissores BC-604: Frequências de 20 a 27.9 MHz. (30W), com alimentação primária a 12v com o dínamo DM-35 ou a 24v com o dínamo DM-37.

Transmissores BC-684: Frequências de 27 a 38.9 MHz. (30W), com alimentação primária a 12v com o dínamo DM-35 ou a 24v com o dínamo DM-37.

(Estes transmissores tinham apenas dez frequências comandadas a cristais e acionadas por teclas.)

Há originalmente mais conjugações “SCR” possíveis, tendo por base estes elementos e acessórios, sendo estas as mais importantes. Portugal não deverá ter-se restringido às conjugações “SCR” básicas, introduzindo por exemplo num “SCR-508”, em vez de dois recetores iguais, dois com frequências complementares.

Como se notará, é com a possibilidade de facilmente se substituir o dínamo interno dos recetores e transmissores que se alteram a tensões primárias com que estes aparelhos podiam ser alimentados (12 ou 24v).

Um SCR-508, ou 608, em versão fixa terrestre, ou aplicado em veiculo ligeiro, com o CHEST-74

Quando se utilizava a versão SCR-528 ou SCR-628 (ficando o alvéolo de um recetor vazio), podia-se preencher esse espaço com o “CH-264” (CHEST-264) (1) onde eram guardados diversos periféricos, e válvulas de substituição, ou um amplificador para intercomunicação de tripulações de veículos blindados, ou ainda um raro amplificador de RF. Para além da referida base MT-237, e quando estes conjuntos eram utilizados em campo ou em viaturas abertas, era utilizado um “armário” “CH-74″(2) (CHEST-74) equipado com base para a antena, onde o conjunto ficava resguardado.

Esta série de “SCR” é substituída, nos anos cinquenta, pelos AN/GRC-3 a 8. Como Portugal também os teve ao serviço, deles trataremos posteriormente num artigo alargado, por ser ainda mais complexa a sua conjugação de componentes.

(Adaptado de um original publicado na revista “QSP”)

João Freitas

Notas:

(1)  “CH-264” (CHEST-264) “CAIXA 264”. Tem as dimensões iguais a um recetor e é totalmente em aço. Na parte superior tem um compartimento para válvulas e na parte na frente um espaço para guardar microfones e auscultadores, ambos os espaços têm tampas.
Como se tem referido, neste artigo, aparecem mais duas nomenclaturas em que decompõe o complexo sistema “SCR”, é o caso do “CH” (CHEST-74 e 264) e do “DM” (DYNAMOTOR-34, 35, 36 e 37)

(2) A tradução dada aqui é mais do que literal! Somos obrigados a isso porque o termo “CHEST” identifica uma serie de acessórios que, no código “SCR”, genericamente, servem para guardar algo ou alguma coisa. No caso do “CH-74” temos uma caixa (armário) de contraplacado, muito robusta, onde o aparelho era colocado, e a partir do qual pode ser operado. Os E.U.A. foram grandes fabricantes/utilizadores deste tipo de CHEST (e Portugal também os recebe!), muito especialmente subdividindo grandes conjuntos de rádios e seus acessórios que equipavam viaturas de comunicações, ou para utilização em fixo terrestre.

O Pombo correio (2)

Post do MGen Pedroso Lima, recebido por msg:

Neste post pretendem-se apresentar alguns elementos sobre a utilização de pombos correios na antiguidade e sobretudo nas guerras dos séculos XIX e XX, nas quais o pombo-correio, com a sua enorme capacidade de “voltar para sua casa” prestou serviços inestimáveis ao esforço de guerra.

A primeira referência à utilização de pombos correios[1] aparece em 2900 AC, no tempo dos faraós do Egito, relatando a sua utilização por personalidades importantes, quando se deslocavam em embarcações, par anunciarem, a sua chegada  ao  porto de destino.

Os mensageiros do rei Sargão da cidade de Acade (Mesopotâmia), em 2350 AC, levavam consigo pombos-correios. que largavam, no caso de serem atacados, para pedir socorro.

Gengis Kan (1167 -1267) usou os pombos para montar um sistema de comunicações através da Ásia e Europa.

Na Guerra Franco-Prussiana, (1870-1871) os pombos correios tiveram um papel fundamental permitindo assegurar, conjuntamente com a utilização de balões e o emprego da microfotografia as comunicações de Paris, cercada pelos alemães, para o exterior. A criação de pombais militares em Portugal, como noutros países, poucos anos depois, resulta de importância atribuída a este meio que permitia superar as falhas do telégrafo elétrico.

Durante a Primeira Guerra Mundial os pombos tiveram larga aplicação. sendo destacar o pombo “Cher Ami” que foi criado e treinado numa base americana em França e que salvou o chamado “Batalhão Perdido” da 77ª  Divisão Americana, a quem o pombo tinha sido doado e que se encontrava nesse Batalhão quando, foi cercado por forças alemãs e que corria riscos de ser bombardeado pelas próprias forças americanas. Os rádios falharam e o Cher Ami foi enviado, como única solução possível. Após ter percorrido 40 quilômetros em 25 minutos, atravessando a região ocupada pelos alemães, o pombo chegou à artilharia americana gravemente ferido, mas entregou a mensagem. O texto indicava a localização do batalhão e pedia que cessassem o fogo. Os 194 soldados do Batalhão Perdido comemoraram, aliviados. O pombo  ganhou a Cruz de Guerra  em homenagem ao seu heroísmo.[2]

Na Segunda Guerra Mundial merecem  destaque dois pombos-correios  também condecorados (entre cerca de 3 dezenas):

– O pombo “G.I. Joe” que salvou milhares de vidas civis e militares na vila Italiana de Calvi Vecchia,  ao entregar a mensagem para as forças aliadas não bombardearem esta vila como estava programado, desconhecendo que a vila tinha sido tomada por um batalhão inglês.

– O pombo “Guilherme de Orange”  que salvou a vida a 2000 soldados durante a batalha de Arnhem em 19 de Setembro de 1944. Devido a um problema de comunicações (perda de sinal) as tropas,  cercadas pelo exército alemão,  não conseguiam pedir auxílio. “Guilherme de Orange”  foi enviado com a mensagem que informava a localização e a situação. Voou 250 milhas até à sua base em Inglaterra com muito mau tempo durante mais de quatro horas.[3]

Muitas outras aplicações tiveram na guerra os pombos correios como por exemplo os bombardeiros ingleses levarem pares de pombos-correios para facilitar a sua localização no caso de serem abatidos, o uso em vez do rádio em situações de “silêncio rádio” ou para evitar a radiolocalização, como nos submarinos.

Há uma aplicação curiosa foi a de procurar obter informações da resistência francesa sobre o dispositivo e a situação das forças alemãs através da utilização de “Kit-espiões” que incluíam pombos-correios, instruções para o envio de mensagens e que eram lançados de paraquedas.

A resposta alemã teve duas vertentes. Por um lado, através de snipers ou da utilização de “falcões peregrinos” (os mais eficazes a caçar pombos) procuravam eliminar os pombos quando largados. Por outro lançaram os seus próprios pombos, pedindo as mesmas indicações aos resistentes franceses mas solicitando a sua identificação que explicavam ser para efeitos de serem condecorados no fim da guerra. Para tornarem o kit mais apelativo juntavam cigarros ingleses.

A reação inglesa tem alguma coisa a ver com o humor britânico pois aconselhou os resistentes a, quando no kit lhe pediam para se identificar o melhor que  tinham a fazer era fumar os cigarros que lhe ofereciam e aproveitar os pombos como reforço alimentar.

Convém acrescentar que o destino de pombos como reforço alimentar não é nenhum exclusivo do Exército português.

Para terminar queria só acrescentar que a “guerra dos pássaros” não se limitou ao que descrevemos em relação à resistência francesa. Os ingleses também tiveram a precaução de intercetar os pombos correios usados pelos espiões ao serviço dos alemães em Inglaterra com o uso de falcões peregrinos.


[1] PEHRSON, J Holzmann Bjoorn, The Early History of Data Networks, 1994, pág 14 e 15, bem como os outros exemplos de aplicações antigas

Wireless Set 19, Posto 19, ou P. 19

Post do nosso leitor Sr. João Freitas, recebido por msg:

Da mais elevada linhagem inglesa, com três modelos principais (Mk I, II e III), pertence a uma longa família de rádios com a designação geral de WIRELESS SET (WS) (*)

O P.19 MKIII com os seus diversos acessórios. Note-se o suporte do relógio entre as 2 tomadas do rádio.

O WS19 é concebido pela “PYE” e começa a ser produzido em 1942. Com inúmeros problemas iniciais, rapidamente resolvidos, chegou ao descalabro de apenas 30% de todas as unidades enviadas para a campanha do Norte de África estarem em estado de funcionamento! Serve as tropas aliadas desde a referida campanha, até ao fim da guerra, sendo fabricado em alguns membros da Commonwealth e sob patente nos EUA (ZENIT). De referir que grande parte daqueles que vieram para Portugal (Mk II e III) serem de fabricação canadiana e americana, facilmente distinguíveis pelas indicações em inglês e russo nos painéis frontais. O cirílico explica-se porque parte da sua produção estava destinada aos aliados soviéticos, através dos tratados de “Empréstimo e Cedência”. Resolvidos que foram todos os defeitos, tornou-se um dos melhores e mais conhecidos aparelhos dos tristes anos de 1939 a 1945.

No caso que nos diz respeito recebemos estes equipamentos nos finais de 40, encontramos referência sobre este importante radio no “Boletim de Material de Engenharia” de 1950. Esteve em serviço até meio da década de sessenta. Entre várias menções á utilização deste excelente aparelho pelo nosso exército, salientamos a que referencia o seu uso na povoação de Mucaba em 1961, para estabelecer contacto rádio com um avião “PV-2” que, de noite, sobrevoava a referida zona (**). Sobre ele existiu, também, um manual de operador feito em Portugal.

Conjunto de cabos do WS-19

Especialmente destinado a ser um rádio veicular, também será aplicado inúmeras vezes em “fixo” seguro ou não numa grande caixa de madeira (a sua caixa de transporte). Geralmente quando aplicado num veículo militar toda a sua parte frontal (rádio e PSU) podiam ser protegidas por duas grelhas de ferro, similares às aplicadas no AN/GRC-9. O avanço tecnológico, impulsionado pela guerra, determina o fim da sua produção no início de cinquenta.

WS-19 MkII equipado com amplificador de RF

Os elementos principais que constituíam este interessante aparelho eram os recetores/transmissores/amplificador de voz numa mesma unidade, uma fonte de alimentação separada com dínamo, ou dínamo e vibrador (“PSU”- POWER SUPPLY UNIT), uma unidade de acoplamento de antena (VARIOMETER), geralmente colocada perto da antena do tanque, ou quando em fixo segura sobre o “PSU” e diversas caixas de controlo veicular e respetivos cabos de interligação. Ainda sobre a unidade de sintonia de antena convém dizer que o seu tamanho era impressionante e sem duvida nenhuma uma peça característica do radio, devido á sua forma cilíndrica com um grande botão de manobra.

PSU, onde se podem ver a indicações em inglês e russo

Alguns dos modelos intermédios estavam equipados de um relógio de bolso na parte frontal (do rádio, ou do PSU). Hoje em dia são peças raras, pois “perdiam-se” com relativa facilidade. Estes relógios, iguais entre si, mas oriundos de diversos fabricantes (por ex. “DAMAS”), tinham marcas distintas gravadas na tampa ou no mostrador, tais como: o eterno símbolo do material militar inglês, a “seta”*** e as letras “T.P.” (Time Piece).

Voltando às características técnicas principais, e como acima dissemos o POSTO 19 dividia-se, interiormente, em dois rádios R/T de banda corrida, em amplitude modelada, o “A” e o “B” com as respetivas frequências de 230mcs a 240mcs, e de 4 mcs a 8 mcs em duas bandas. Não nos podemos esquecer da hipótese de pré fixar quatro frequências (duas por banda) no radio “B”, sistema que tomou a designação “PISCA” nos nossos manuais (originalmente apelidado de “flick system”). A alimentação primordial deste aparelho era de 12 ou 24 v.

Não temos conhecimento de que, em Portugal, tenha sido usado um amplificador de “RF” especificamente destinado a este aparelho.

João Freitas

(Adaptado de um artigo publicado originalmente na revista “QSP”)

Notas:

(*) Um dos primeiros sistemas identificativos e sequenciais ingleses, tem a designação, não oficial de “WIRELESS SET” (WS). Esta designação não passa de uma espécie de “nome de família” composta por mais de sessenta rádios. Diferenciados apenas pelos seus números próprios, a sequência numérica desta série, nem sempre uniforme (do “1” ao “88”, há números que faltam), nada nos diz sobre a sua utilização, nem do fim a que se destinam, sendo por exemplo, dois números consecutivos, identificativos de rádios completamente diferentes e tendo fabricantes diversos. Dela continuaremos a falar em outros artigos, pois foi extremamente importante para o nosso país, estando intrinsecamente ligada ás comunicações militares em Portugal entre os finais de década de trinta aos finais de sessenta.

Ainda falando da tendência, de resto muito britânica, de juntar os seus aparelhos de comunicações militares por grupos, aos quais é atribuído um nome, podemos adicionar que, dentro dessa família, os seus elementos são diferenciados por letras e números. Durante alguns anos é essa “família de rádios” que predomina, embora a que antecedeu ainda esteja em utilização e a que lhe vai suceder já esteja em plena distribuição. Como exemplo, podemos colocar no tempo e de forma sucessiva, o sistema “WIRELESS SET” e o sistema “LARKSPUR” (nome de um famoso cavalo de corridas!).

Contrariamente ao que sucede no sistema “WIRELESS SET”, no sistema “LARKSPUR”, de que Portugal também viria a receber largas quantidades de aparelhos, a codificação de cada aparelho, já obedece a uma identificação coerente, segundo tabelas fixas.

(**) General Silva Cardoso, em “Angola anatomia de uma tragédia”

(***) A “seta” (uma ponta de seta estilizada, símbolo do monarca George I e do Império Britânico) é utilizada para identificar, a tinta ou em baixo relevo, algum material de guerra de origem inglesa (Commonwealth) desta altura.

Os primeiros telégrafos

Post do MGen Pedroso Lima, recebido por msg:

Os primeiros telégrafos que apareceram teriam sido inventados por Eneias[1], que em 350 AC escreveu um livro de estratégia militar, A Arte da Guerra, parte do qual chegou aos nossos dias, mas não a que contém a descrição deste telégrafo.

A descrição do telégrafo de Eneias – o telégrafo hidráulico – foi feita pelo historiador grego Políbio (200-118AC) dois séculos depois.

Convém acrescentar que o telégrafo se destinava a melhorar a indicação dada pelas almenaras que era de que “havia qualquer problema grave” mas sem dizer mais do que isso.

Segundo Políbio o que o telégrafo de Eneias permitia era dar informações pré determinadas como: “a primeira: A Cavalaria chegou ao país, a segunda: a infantaria pesada, a terceira: a infantaria leve armada, a quarta: infantaria e cavalaria, a quinta: navios, a sexta: milho e outras”.[2]

Na figura mostra-se o telégrafo hidráulico que era utilizado, juntamente com a sinalização por um facho que vemos na mão esquerda do operador.

O sistema compreendia dois recipientes de barro iguais colocados um no remetente outro no destinatário e que eram inicialmente cheios de água.

No interior de cada recipiente era colocada uma rolha de cortiça com uma haste saliente, como se vê na figura. Á medida que se retirava água do recipiente a haste descia e permitia assinalar uma das “informações predeterminadas” assinaladas na haste pelo seu número.

Para se transmitir a mensagem era preciso assegurar o sincronismo da abertura e fecho das torneiras na estação emissora e na recetora.

Para isso o operador da estação emissora ao mesmo tempo que abria a torneira mostrava o facho. O recetor abria imediatamente a torneira do seu recipiente. Quando chegava ao nível correspondente à “informação predeterminada” que se pretendia transmitir o operador baixava o facho, que era o sinal para o operador da estação recetora fechar a torneira e perceber qual era o número da informação pré definida.

Políbio

Mas não se ficaram por aqui as realizações de Eneias ligadas às transmissões, narradas por Políbio, como é o caso da célebre “tabela de Políbio”. [3]

Esta tabela além de permitir reduzir o número de fachos necessários para transmitir as letras do alfabeto, constituiu um dos primeiros  sistemas de cifra utilizados.

A   tabela   que  permite  representar  as  letras  através de números é,  por exemplo, a seguinte:

 

1

2

3

4

5

1

a

b

c

d

e

2

f

g

h

ij

k

3

l

m

n

o

p

4

q

r

s

t

u

5

v

w

x

y

z

 

Cada letra é representada por dois números, representando o primeiro a  linha e o segundo a coluna. Por exemplo h é representado por 23 e r por 42.


[1] PEHRSON, Gerald j Holzman Bjorn, The Early History of Data Networks, 1994, pág.29, que mos explica que este Eneias não tem nada a ver com a Eneida de Virgílio.

[2] Isto é a tradução integral que não é muito percetível, Presumo que “Infantaria pesada”  signifique  que se avistou a sua aproximação…

[3] Políbio parece ter sido o narrador e não o autor.

Telégrafo Português 2

Em conversa com o Cor. Eng. Caixaria tive conhecimento que, nas suas pesquisas sobre o Real Corpo de Engenheiros no Arquivo Histórico Militar, leu que tinha sido construído um telégrafo óptico de grandes dimensões em madeira e entregue no Arsenal do Exército. Este telégrafo devido às dimensões não chegou a ser instalado e ficou guardado no Arsenal até ser abandonado. Nas minhas pesquisas na Internet encontrei uma imagem de um telégrafo português de que não há referência de ter existido no Corpo Telegráfico e que poderá corresponder ao telégrafo referido. Junto a imagem Imagem disponível na Internet, no site do National Museum of American History, que pode ser visto aqui.

Os SCR-300 (BC-1000), AN/VRC-3 e WS-31

Post do nosso leitor Sr. João Freitas, recebido por msg:

O bloco eletrónico do “SCR-300” foi utilizado em blindados ou outros veículos militares, como veremos, com uma diferente alimentação, tomando então a designação “AN/VRC-3”; mais tarde, é produzido no Reino Unido sob a designação “Wireless Set 31” ou de forma abreviada “WS 31” e tomando por cá a designação de “Posto 31” ou “P-31”. De momento e nesta forma de apresentação, não vemos necessidade de criar três artigos diferentes, uma vez que estes aparelhos são basicamente idênticos, diferindo, no caso do “SCR-300”/“WS 31” maioritariamente nos microtelefones e seus sistemas de fichas de ligação aos rádios e no material em que eram feitos alguns dos componentes externos, sendo o rádio americano totalmente em chapa de ferro, e o britânico em magnésio, além de pontuais diferenças nos blocos eletrónicos. Também no “WS 31” não estava prevista (no seu exterior) a fixação de um arnês de transporte (como no “SCR-300”). Este seria realizado fixando o aparelho a uma mochila com estrutura em alumínio.

Conjunto completo do SCR-300

De origem americana o “SCR-300” viu a luz do dia no início da Segunda Guerra e chegou às nossas fileiras logo em 1947/48. Por cá terá ficado integrado até aos primeiríssimos anos da década de sessenta. Da sua permanência em Portugal temos escassa informação, que pouco mais é que o manual do utilizador em português com a data de 1948 e depoimentos recolhidos de antigos militares que ainda se lembram dele, especialmente do seu peso…

WS-31

Painel do WS-31

Do “Wireless Set 31” sabemos que terá vindo em numero muito menor do que o “BC-1000”(*), e terá chegado já no final da década de cinquenta.

VRC-3 com a alimentação veicular

O “AN/VRC-3” segue em Portugal, em questão de datas o mesmo percurso do “BC-1000”, diferindo, obviamente na utilização. Como estes três aparelhos são gémeos, generalizámos a sua apresentação ao modelo americano, devido á maior importância que teve para o nosso Exército.

BC-1000

O “BC-1000” é considerado o primeiro emissor/recetor de transporte ao dorso “walki-talki” (**) funcionando em frequência modelada. Totalmente a válvulas (18), possuía uma sintonia corrida nas frequências de  40 mc/s aos 48 mc/s,   a alimentação era realizada por uma de duas pilhas, a “BA-70“ ou a “BA-80”, esta ultima com as mesmas tensões (4,5v, 60v, 90v) da anterior, mas de menor tamanho.

Painel do BC-1000

Uma das características curiosas deste radio, era a tampa de que estava apetrechado e que protegia toda a zona dos botões e do quadrante, deixando no entanto livre a antena e os encaixes para o microtelefone. Como peça importante deste conjunto, será obrigatório referir a existência de um pequeno saco “BG-150”, que se prendia ao cinto para transporte das antenas e do respetivo microtelefone “TS-15”. Em relação a este ultimo, era muito parecido com o auscultador de um vulgar telefone dos anos quarenta, apresentando na parte interior da sua pega, uma chave de orelhas de carregar-para-falar.

Para a sua utilização principal, em transporte ao dorso, podia equipar com a antena, “AN-30” com 83 centímetros, ou a “AN-131” com 3,30 metros. Quando temporariamente em “fixo” o seu alcance inicial de cerca de 4 km era aumentado se fosse utilizado uma antena mais complexa, necessitando de um sítio alto para ancoragem, este conjunto tinha a designação “RC-291” e não fazia parte do conjunto “SCR-300”.

Fazendo parte integrante do radio, existia um complexo arnês, que compreendia um cinturão (exclusivo) ligado á parte inferior da caixa das pilhas por meio de duas cavilhas, e um sistema de duas alças com ajustes diversos, e ainda uma pequena almofada para interpor entre o radio e as costas do utilizador. No referido cinturão era preso o saco de transporte do microtelefone e das antenas. Este cinturão substituiria o cinturão habitualmente usado pelo militar.

Este aparelho histórico, é substituído, nos últimos dias da guerra da Coreia, pela série AN/PRC-8, 9 e 10. No nosso exército o mesmo vem a acontecer mais tarde, quando o “AN/PRC-10” aparece nas nossas fileiras.

(*) Como se tem referido anteriormente a nomenclatura “BC-1000”, no antigo sistema identificativo americano, diz respeito apenas ao rádio, num conjunto (geralmente vasto) de elementos essenciais para que ele funcione em pleno, neste caso com a designação “SCR-300”.

(**) Temos lido em diversos manuais americanos diversas formas de escrita destas palavras. Originalmente já vimos com terminações em “ i “, em “ ie”, e em   “ y “, em ambas as palavras, ou conjugações entre elas! Será importante referir que nos EUA e contrariamente ao que se passa em Portugal, um aparelho de transporte ao dorso tem a designação generalista de “walki-talki”, um outro que se segure apenas numa mão ser-lhe-á dado a designação de  “handi-talki”. Nesta última também se aplica o que foi dito sobre as diferentes grafias.

João Freitas

(adaptado de um artigo original publicado na revista “QSP”)

António Maria Fontes Pereira de Melo

Post do Cor António Pena, recebido por msg:

O livro “AS TRANSMISSÕES MILITARES – Da Guerra Peninsular ao 25 de Abril”, da autoria da Comissão da História das Transmissões, editado em 2008 pela Comissão Portuguesa de História Militar, na página 20 refere: “Impulsionada por Fontes Pereira de Melo, inaugurou-se em Portugal, em 1855, a nova rede telegráfica eléctrica. Destinada  inicialmente aos serviços do Estado, em 1857 abriu ao serviço público, expandindo-se rapidamente no país.

O General de Divisão (Tenente-General) Fontes Pereira de Melo, nasceu em Lisboa em 8 de Setembro de 1819 e morreu nesta cidade em 22 de Janeiro de 1887 (aos 67 anos). Era filho de um militar que fizera carreira na Marinha e que foi Conselheiro, Governador de Cabo Verde e Ministro.

Fontes Pereira de Melo assentou praça na Marinha, aos 14 anos, iniciando o curso de guarda-marinha ao mesmo tempo que frequentava o curso de matemática na Academia Real da Marinha. Nesta altura, 14/15/16 anos, participou na batalha naval do cabo de São Vicente, comandado pelo Almirante Charles Napier e na luta das linhas de defesa de Lisboa contra as tropas miguelistas. Em 1833 recebia o batismo de fogo tomando parte nos combates entre as tropas absolutistas, que cercavam Lisboa, e as do Duque da Terceira nas quais o Almirante Charles Napier incorporara a Academia Real de Marinha. Em junho de 1836, aos dezassete anos, terminou o curso na Academia da Marinha sendo classificado aluno distinto em Artilharia. Apesar dos prémios e louros alcançados no curso naval, em 26 de setembro conseguiu autorização para se matricular no curso de engenharia da Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho (mais tarde Escola do Exército), para cuja frequência os preparatórios da Academia de Marinha eram aceites. Em 1839 (junho) termina o curso de engenharia, premiado na disciplina (hoje seria unidade curricular) mecânica aplicada, tendo sido promovido a 2ºtenente em novembro, concluindo, aos vinte anos, dois cursos com distinção, pressagiando com as provas dadas, combatente infantil e estudante exemplar, as excelentes qualidades militares, os dotes de inteligência e as invulgares provas de dedicação e trabalho, que fizeram de Fontes Pereira de Melo ser humano preponderante no cumprimento das diversas missões assumidas ao longo da sua vida.

Com a promoção a tenente do Real Corpo de Engenheiros começa a sua fase militar ativa, iniciada com o cargo de ajudante de ordens (ajudante-de-campo) do seu pai, nomeado Governador de Cabo Verde. Nesta colónia, “microcosmos ideal para exercitar as suas ideias”, até 1842 quando regressou ao Continente, assumiu, em acumulação como engenheiro, o lugar de diretor de Obras Públicas, tendo levantado plantas hidrográficas e de portos, restaurado fortes, plantado árvores e projetado o hospital da Vila da Praia e, ainda, preparou e apresentou relatórios sobre trabalhos de engenharia a realizar na Guiné (Guiné-Bissau). No Continente (regresso em 1842) passou a prestar serviço na Arma de Engenharia e na Comissão Geodésica (nesta função aproveitando os conhecimentos adquiridos na unidade curricular de astronomia, que frequentou na Escola Politécnica, logo a seguir ao terminar o curso de Engenharia.

A passagem de Fontes Pereira de Melo por Cabo Verde é da maior importância em mais dois aspetos da sua vida. No âmbito familiar casou com Maria Josefa, filha de um negociante local, enviuvou pouco depois do regresso, tendo uma filha, Teresa Delfina, que morreu ainda criança, resultando que a sua vida doméstica consistia em conviver com a irmã, também viúva, e com os sobrinhos. No outro aspeto salienta-se a sua entrada no mundo político através da candidatura a deputado por Cabo Verde, em 1848, quando era Presidente do Conselho o marechal, Duque de Saldanha, “Cabo Verde mandava para São Bento um dos maiores parlamentares de sempre”.[1]

Os estudos e envolvimentos profissionais do tenente engenheiro Fontes Pereira de Melo apontavam o jovem oficial para uma carreira técnica, mas uma batalha alterou a sua postura. Em 1846, conflito de Torres Vedras (revolta da Maria da Fonte), pertencia ao Estado-Maior do Marechal Saldanha, tendo-lhe sido confiada a perigosa missão de fazer o reconhecimento do campo, tarefa executada na perfeição, sendo altamente elogiada pelo marechal que, após a vitória das tropas governamentais lhe concedeu o grau de Cavaleiro e Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada. O jovem militar envolve-se no movimento político Regeneração, declarando-se progressista e afirmando no Parlamento (eleito em novembro de 1851, por Lisboa) haver urgência em criar o Ministério das Obras Públicas para fazer face às infraestruturas de que o país necessitava.

A rede telegráfica nacional em Junho de 1861

Aos 31 anos (29 de abril) é promovido a capitão e logo a seguir, 7 de julho de 1851, ingressou no ministério chefiado pelo marechal Saldanha, assumindo a pasta da Marinha, sendo depois nomeado para a Fazenda (importante ministério) e a 30 de agosto de 1852 assume o recém-criado Ministério das Obras Públicas onde consegue condições para a implantação das Transmissões no Exército, “No Ministério das Obras Públicas, trabalhava-se igualmente na concretização de uma rede de telégrafos (Em 1855, introduzia-se o telégrafo em Portugal; cinco anos depois, a linha tinha uma extensão de 2000 Km)”.[2] No respeitante a este assunto ainda se pode referir de outro estudioso da obra de Fontes Pereira de Melo, “(…) não se pode esquecer ter Fontes contratado, em 26 de Abril de 55, com a Casa Breguet, de Paris, o estabelecimento das primeiras linhas telegráficas entre Lisboa e Porto e Lisboa e Elvas, numa extensão total de 600 Km, que deviam estar prontas a trabalhar num ano; e, com o General Wilde, o lançamento do primeiro cabo submarino entre Lisboa, Açores e Estados Unidos.”[3]

Locomotiva a vapor D. Luiz (1862) e carruagem D. Maria Pia (1858/61), contemporâneas dos inícios do CF em Portugal (Lisboa-Carregado, em 28OUT1856)

Entretanto importa recordar o ano de 1848 quando alguns oficiais pensaram em criar uma publicação periódica literária onde os militares pudessem acompanhar os melhoramentos e progressos que as artes e as ciências fazem diariamente. Ao longo dos meses desenvolveram-se contactos e obtiveram-se apoios, até que no dia 1 de dezembro de 1848, no 1ºandar do nº40 da antiga Travessa do Secretário da Guerra (Rua Nova da Trindade), em Lisboa, foi lavrado o Acordo Estatutário para a publicação da Revista Militar. Nos termos do Art7º do Acordo, os colaboradores efetivos – mais tarde designados Sócios Fundadores – seriam “aquelles indivíduos que até ao dia da publicação do primeiro número se obrigaram ao cumprimento do presente contracto, assignando-o”. O documento está assinado por 26 oficiais, vinte e quatro do Exército e dois da Marinha, sendo o tenente Fontes Pereira de Melo o primeiro da lista. Nos seus trabalhos, a investigadora Maria Filomena Mónica, salienta: “Tudo – o físico, o porte, a voz – o separa dos outros políticos. Num país infestado por bacharéis, o facto de não ter frequentado a Universidade de Coimbra acabou por lhe ser favorável. Em vez de passar as noites a ler romances franceses, a jogar whist, a ouvir intrigas, entretinha-se a redigir artigos para a Revista Militar, a escrever preâmbulos, a ler compêndios.[4] A este propósito importa clarificar que Fontes Pereira de Melo, principal Fundador da Revista Militar, apenas colaborou no seu primeiro número, janeiro de 1849, escrevendo a “INTRODUCÇÃO”, texto inovador e de grande alcance futuro, “(…) a índole do século está marcada nos quasi cincoenta annos, que já lá vão, e durante os quaes se tem devido mais ás sciencias e ás artes, do que em centenas de outros, consumidos, pela maior parte, na lucta sanguinolenta de ambições estéreis. Os barcos a vapor, os caminhos de ferro, e os telegraphos eléctricos, são três grandes padrões, que uma mesma geração levantou para si, e com que honrou para sempre o século a que pertenceu.

Em 1858 assume a chefia do Partido Regenerador e logo a seguir, noutro ministério, ocupou a pasta dos Negócios Estrangeiros e depois, 1865 (ano da promoção a major), novamente era Ministro da Fazenda e, em 1866, nomeado Conselheiro de Estado, e, interinamente, o Ministro da Guerra, dando início a largo conjunto de medidas inovadoras no Exército. No dia 30 de junho de 1868 foi promovido a tenente-coronel e a 2 de outubro de 1873 a coronel. Os governos sucediam-se, organizando-se o primeiro ministério progressista em junho de 1879, mas Fontes Pereira de Melo não quis entrar, preferindo manobrar politicamente. Nesse ano assumiu a Presidência da Câmara dos Pares e em 25 de setembro foi promovido a general de brigada (major-general).

Busto de Fontes Pereira de Melo (Soares dos Reis)

Em novembro de 1881 colaborou na organização de novo governo no qual exerceu, interinamente, os ministérios da Guerra e da Fazenda, realizando em 1884 a organização do Exército, na qual se inclui o Regimento de Engenharia com uma Companhia de Telegrafistas no segundo Batalhão. Sobre esta reorganização o Estado-Maior francês salientou, “… parece que Portugal pode encarar daqui em diante o futuro com tranquilidade…[5]

Mais tarde, 1886, ano da sua promoção a general de divisão (tenente-general), apresentou a demissão coletiva do Gabinete perante a recusa de reformas financeiras que considerava indispensáveis.


[1] Mónica, Maria Filomena (2009); FONTES PEREIRA DE MELO – Uma Biografia. Edição Revista e Aumentada; Alétheia Editores; Pag10.

[2] Mónica, Maria Filomena (2009); FONTES PEREIRA DE MELO – Uma Biografia. Edição Revista e Aumentada; Alétheia Editores; Pag53.

[3] Couvreur, Engenheiro Raul da Costa (1952); ANTÓNIO MARIA FONTES PEREIRA DE MELO 1819/1887 – 1851/1886 – 1852/1952; Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa; Pag20.

[4] Mónica, Maria Filomena (2009); FONTES PEREIRA DE MELO – Uma Biografia. Edição Revista e Aumentada; Alétheia Editores; Pag193/194.

[5] Coelho, Brigadeiro Adelino Rodrigues (1988); A Reorganização do Exército de 1884: Obra de Fontes Pereira de Melo; Separata da Revista Militar, Lisboa.

Visita ao CAVE

Post do MGen Pedroso Lima, recebido por msg:

Conforme estava previsto, no dia 5 de Julho três elementos da CHT (MGen Pedroso de Lima, MGen Edorindo Ferreira e Cor Aniceto Afonso) deslocaram-se ao Centro de Audiovisuais do Exército (CAVE), onde foram recebidos pelo subdiretor, Cap Man Tm Carlos Prada, em virtude de o diretor se encontrar de licença.

A visita destinava-se a verificar as possibilidades de o CAVE nos proporcionar a visualização de filmes e fotografias com interesse para a História das Transmissões.

Previamente o MGen Edorindo difundira pelos elementos da CHT a listagem dos filmes e fotos existentes em arquivo. À nossa chegada o CAVE já tinha preparado alguns filmes para nos mostrar.

Convém acentuar que o CAVE possui todos os filmes do Exército, bem como as fotografias posteriores a 1976, visto que as mais antigas foram transferidas para o AHM.

Os filmes que visionámos foram os seguintes: a EPT (Lisboa) em 1972, o RTm (Porto) em 1973 e a Inauguração da Capela no Agrupamento de Transmissões de  Angola (Luanda) em 1970, bem como a Inauguração da Ponte de Vila Franca em 1951, este último por curiosidade.

Do visionamento destes filmes ficámos com a convicção que o espólio do CAVE é valioso e que dos filmes se poderão extrair pequenos trechos para ilustrar equipamentos e materiais da Coleção Visitável, por exemplo no que se refere à instalação de linhas telefónicas aéreas, transmissão de mensagens por morse e por teleimpressor, etc.. No entanto, só uma visita demorada possibilitará a visualização de outros filmes de várias áreas de transmissões com interesse histórico e “extrair” as partes requeridas.

Foi também ventilada a hipótese de, a exemplo do que a Fundação Portuguesa das Comunicações fez para a Exposição de 2008, se fazer um pequeno filme para projetar na sala de apresentação da Coleção Visitável do RTm.

Uma palavra final para a forma simpática, competente e eficaz como fomos recebidos pelo nosso camarada capitão Prada, que nos mostrou as instalações do CAVE e os diversos equipamentos e capacidades nas componentes vídeo, foto e gráfica, bem como o pequeno Museu.

Os Pioneiros da TSF – Jagadish Chandra Bose

Bose nasceu em 30 de Novembro de 1858 em Mymensingh, na altura território indiano, que, actualmente, pertence ao Bangladesh, e faleceu em 23 de Novembro de 1937.

Estudou em Calcutá, onde se formou. Com 22 anos mudou-se para Inglaterra onde continuou os  estudos, inicialmente, em medicina, na Universidade de Londres, e, posteriormente, em Ciências Naturais, em Cambridge.  Aqui foi aluno de Lord Rayleigh, que muito o influenciou.

Regressou à índia, onde foi, durante 30 anos, professor e investigador no “Presidency  College of Calcutta”. Em 1917 fundou o “Bose Reserch Institut”, em Calcutá, a primeira instituição de investigação científica da India. Depois de 1900 dedicou-se à área científica mais ligada à sua formação inicial: a fisiologia de animais e plantas. Nesta área fez estudos pioneiros sobre os efeitos da radiação electromagnética nos seres vivos.

Foi eleito membro da “Royal Society” em 1920.

Contribuição para a evolução da TSF

Quando Bose regressou à Índia, milhares de homens da ciência, por todo o mundo, investigavam as recém-descobertas ondas electromagnéticas e procuravam aplicações práticas das mesmas. Bose não fugiu a esta “moda”. A leitura do livro de Oliver Lodge, “Heinrich Hertz and His Sucessors” teve influência nesta orientação. Em 1894 criou um pequeno laboratório, dentro do “Presidency College”, onde começou a desenvolver as suas investigações orientadas essencialmente para duas áreas:

– Estudo do comportamento da radiação electromagnética, envolvendo refracção, difracção, e polarização;

– Estudo de dispositivos e técnicas para detecção da mesma radiação.

No que se refere à primeira área, Bose trabalhou essencialmente com ondas milimétricas sendo um precursor das microondas. Como se pode verificar na figura abaixo apresentada, que mostra o dispositivo da sua demonstração perante a “Royal Institution”, em 1897, utilizou vários componentes de microondas, inventados por si, tais como: guia de ondas, antena de corneta e polarizador.

Bose demonstrando as suas descobertas na “Royal Institution”, em 1897



Esquema da montagem utilizada na demonstração

Em 1895 Bose fez uma demonstração pública da utilização das ondas de rádio, conseguindo fazer tocar uma campainha e detonar uma arma a uma distância de aproximadamente uma milha, facto que lhe permitiu entrar no restrito clube dos que primeiro demonstraram a utilidade prática de tais ondas.

Na segunda área, Bose, conhecedor das limitações que tinha o dispositivo de recepção então usado – o coesor de limalha –  dedicou-se a pesquisar  um dispositivo alternativo. Fez estudos com dispositivos de junção entre dois materiais diferentes, que foram precursores do detector de galena. Em 1899 Inventou o chamado coesor de junção imperfeito ou auto-coesor ou coesor de ferro-mercúrio-farro que consiste numa pequena quantidade de mercúrio contida numa cápsula de ferro com uma pequena quantidade de óleo a cobrir o mercúrio e, em contacto com o óleo, um outro eléctrodo de ferro. Quando se aplica uma radiofrequência entre o eléctrodo que constitui a cápsula e o outro eléctrodo de ferro, a resistência entre os eléctrodos diminui muito, permitindo a passagem de uma corrente contínua. Quando deixa de existir o sinal de radiofrequência a resistência de contacto volta a aumentar. Por isso, este coesor, ao contrário do de limalha, era auto-recuperável.

Ainda hoje não se conhecem bem quais os fenómenos físicos que permitem este funcionamento mas julga-se que estão ligados à polarização dos materiais nas junções o que configura tal dispositivo como o antecessor do díodo de junção que apareceu 40 anos depois.

Mais uma controvérsia envolvendo Marconi

À semelhança de Tesla, há também um contencioso de patentes entre Bose e Marconi, embora este nunca tenha sido objecto de disputa judicial.

Marconi, nas suas primeiras experiências de rádio, até 1900, utilizou como detector o coesor de limalha, inventado por Branly e aperfeiçoado por Lodge , mas, na primeira ligação transatlântica, em Dezembro de 1901, utilizou um detector mais sensível, o denominado coesor ferro-mercútrio-ferro ligado a um telefone, que alegou ter-lhe sido oferecido por L. Scolari, engenheiro da Marinha Italiana e seu amigo de infância, a que chamou “coesor da Marinha Italiana”.

É hoje consensual que tal dispositivo foi inventado por Bose que, em 27 de Abril de 1899, havia feito, na “Royal Society”, uma conferência intitulada “On a Self Recovering Coherer and Study of Cohering Action of Different Materials”, na qual terá feito a descrição de tal dispositivo.

Nem Marconi nem Scolari tiveram a hombridade de reconhecer a autoria da invenção de Bose.

Marconi obteve mesmo uma patente de um dispositivo praticamente igual (British Patent 18105 de 19 Setembro 1901).

Fontes:

(1)    The Work of Jagadish Chandra Bose, 100years of mm-wave Research, D. T. Emerson, National Radio Astronomy Observatory.

(2)    Jagadish Chandra Bose: The Real Inventor of Marconi´s Wireless Receiver, Varun Aggarwal, Div. of Electronics and Comm. Engg., NSIT, Delhi, India.

Os SCR-593-A

Post do nosso leitor Sr. João Freitas, recebido por msg:

Vamos hoje tratar de um aparelho praticamente desconhecido, apesar de uma série de fatores que o tornaram único e digno de nota. Mesmo a diversos militares da velha guarda, as nomenclaturas “SCR-593-A” ou “BC-728-A” (1), hoje em dia, já nada dizem.

O “BC-728-A“, (BASIC COMPONENT 728) elemento principal do “SCR-593-A” (SET COMPLET RADIO 593) era apenas um pequeno recetor portátil de amplitude modulada, tendo como comandos quatro botões de pressão para a seleção das quatro frequências pré sintonizadas em oficina, e um outro rotativo que acumulava as funções de ligar / desligar e volume. As quatro frequências estavam compreendidas entre os 2 e os 6 mcs. Podemos dizer que é o único recetor americano de verdadeiro transporte ao ombro, destinado ao serviço militar, muito especialmente à artilharia. Como veremos mais abaixo o aparelho também podia ser aplicado em veículos, seguro a um suporte específico.

Este rádio totalmente autónomo, tinha seis válvulas alimentadas por um sistema com vibrador e possuía altifalante incorporado. Como energia inicial, encontramos no seu interior, uma bateria “BB-54-A“, similar às utilizadas nas motorizadas atuais. A carga desta bateria, era realizada a partir de uma bateria de automóvel de 6 ou 12 v, através de cabos e fichas próprios, e com a ajuda de um outro vibrador (tudo incluído no recetor).

Ligado intrinsecamente ao referido processo de transporte (ao ombro), estava a sua singular antena “AN-75-A”, se não vejamos; a primeira parte da antena era um grosso cabo de borracha preta (com uma proteção em cabedal para o ombro) que, ficando preso pelas suas extremidades ao recetor, servia de alça de transporte. Numa das referidas extremidades estava colocada uma robusta antena telescópica com (aproximadamente) dois metros e dez centímetros de comprimento.

Quando utilizado em “fixo veicular”, o lado da bandoleira que tinha a antena telescópica podia eventualmente ser desaparafusado do corpo do rádio e colocado numa posição convenientemente mais elevada, permanecendo a outra extremidade ligada ao recetor. Um conjunto próprio de acessórios de fixação (2) permitia este uso veicular do recetor, desde que o rádio e a antena pudessem ficar o mais verticais possível. Esta posição era fundamental para o recetor, devido aos cuidados a ter com o ácido da bateria. Tal suporte veicular permitia a fácil extração deste recetor.

A decisão em criar um rádio com alimentação primária baseada numa bateria de ácido/chumbo dita, no futuro, a sua própria morte. Apesar de serem estanques, estes acumuladores vertiam, por descuido ou defeito. O ácido à solta dentro do aparelho, era como um elefante numa loja de cristais. Também a borracha que cobria os quatro botões selecionadores das frequências era de má qualidade e muito fina, deteriorando-se depressa.

Portugal deve ter recebido umas escassas dezenas de unidades (20 rádios, conforme memória de um antigo militar) no início dos anos cinquenta (manual em português de 1958) acompanhadas, naturalmente, por muitos “spares”. Prova disso é termos encontrado, no ano de 2000, largas quantidades de antenas novas ainda embaladas e outro material acessório para eventuais reparações.

João Freitas

(Adaptado de um artigo publicado originalmente na revista “QSP”)

Notas:

(1) A letra “A” na posição apresentada, refere-se já a uma modificação (geralmente impercetível) de qualquer tipo executada naquilo que a sigla anterior (2/3 letras + 2/3 números) verdadeiramente identifica como sendo o básico (o mesmo torna-se válido para as outras letras do abecedário, indicando sucessivas e posteriores alterações).
Quando apresentamos esta especifica identificação, procuramos a que melhor se refira aos modelos que realmente tivemos, em número de exemplares. Não queremos dizer com isso que outros modelos, de menor expressão não tenham de facto sido usados pelo nosso Exército (ex. SCR-593-F).
Será de notar que geralmente os manuais americanos (TM) da serie 11 (material de comunicações), além da sigla identificadora do aparelho a que se destinavam, indicavam logo que se referiam aos rádios com as modificações A, B, C… F, etc., de modo a que o reparador, por exemplo, soubesse que do “B” para o “C”, uma resistência de 1Meg. teria sido alterada para 2. 2Meg.

(2) Sem nos querermos estar a repetir, mais uma vez esclarecemos que a sigla “SCR” (SET COMPLET RADIO) inclui, neste caso: o recetor, antena, bateria, o suporte veicular, cabos de alimentação e todos os parafusos para a fixação do mesmo, tendo cada uma destas peças uma nomenclatura própria. Nesta sequência, ao recetor foi-lhe atribuída a identificação “BC-728” (BASIC COMPONENT 728).

Galeria

Marconi H4

Esta galeria contém 17 imagens.

Depois dos dois equipamentos Ducretet-Popoff, os primeiros adquiridos pelo Exército português, em 1901, e dos cinco Telefunken, os segundos, adquiridos em 1909 (ambos já tratados em artigos anteriores aqui e aqui), foram adquiridos onze equipamentos Marconi no início dos anos … Continuar a ler

O mensageiro

Post do MGen Pedroso Lima, recebido por msg:

O mensageiro foi o meio mais antigo que se utilizou, desempenhou um papel importante na vida das nações e dos Exércitos e a Arma de Transmissões reconheceu-o  claramente ao escolher o Arcanjo S. Gabriel para seu patrono.  Por outro lado o “espírito do mensageiro” traduz bem uma caraterística essencial do pessoal da Arma de Transmissões que é o de “levar a carta a Garcia”.Torna-se, assim,  para mim difícil de entender o pouco interesse que a historiografia das Transmissões do Exército  tem dedicado a este tema.[1]

Sem a pretensão de esgotar o assunto, mas sobretudo para procurar interessar os visitantes deste Blogue[2] para o tema, vamos apresentar notas selecionadas  de duas obras, uma de carater geralo e outra relativa às comunicações em Portugal.[3]

Convém acentuar que se os sistemas de telegrafia ótica[4] estão ligados ao aparecimento da escita, o que sucedeu na Suméria (cuneiforme) entre 3250 e 1950 AC e no Egito (hieroglífica), por volta do ano 4000.[5]  é de admitir que a utilização de mensageiros ainda seja anterior.

O mensageiro mais famoso da história  foi o corredor grego Fidipes, que, de acordo com a lenda, em 490 AC , percorreu 36,2 km de Maratona a Atenas para avisar os atenienses da aproximação do Exército persa.[6]

O rei persa Ciro o Grande que viveu entre 599 e 530 AC e reinou na Pérsia durante os últimos 19 anos da sua vida, melhorou o sistema de comunicações existente introduzindo  estações, colocas à distância que um cavalo podia percorrer num dia, e que dotou com cavalos e pessoal para tomar conta deles; em cada uma das quais se encontrava um oficial que recebia as cartas e as fazia seguir em cavalos e cavaleiros frescos.[7]

Mais tarde, no século XIII, Marco Pólo, que visitou  China entre 1271 e 1294 descreve o sistema montado pelo rei mongol Kublai Khan, neto do célebre Gengis Khan da seguinte maneira:[8]

“Vamos apresentar sistema de estações que o Grande Khan utilizava para enviar os seus despachos. Há que referir que da cidade principal, irradiavam muitas estradas, cada uma das quais tinha designada a província a que se destinava. O sistema estava admiravelmente concebido. Quando qualquer cavaleiro seguia por uma daquelas estradas só tinha que percorrer 40 km para encontrar uma estação onde mudava de cavalo.”
“…Aqui o cavaleiro encontrava estacionados não menos de 400 cavalos, á ordem do Grande Khan  e prontos para serem utilizados pelos seus mensageiros quando em serviço .”

O autor chama a atenção para a dimensão e custo deste sistema que envolvia estações  nas principais estradas  do país. Esclarece que os 400 cavalos não se encontravam em uso ao mesmo tempo, o que só acontecia com metade pois a outra estava a pastar e a descansar para a próximo percurso a efetuar.

No caso de o Gande Khan necessitar de notícias urgentes de uma determinada província  o sistema era melhorado de modo a permitir que os mensageiros percorressem 400 km por dia.  Para o efeito os cavaleiros seguiam aos pares e os cavalos eram selecionados. Durante o percurso e quando chegavam próximo da estação (como vimos a 40km)  tocavam uma espécie de trompa  que produz sons a grande distância, para avisar a estação da sua chegada, por forma a trocarem  imediatamente de cavalo para um fresco,  prosseguindo a sua missão.

Em Portugal os mensageiros também foram, desde o início da nacionalidade, um elemento indispensável à vida do país e ao funcionamento das instituições civis e militares, da governação do reino e da sua vida económica. Esta situação de predominância quase absoluta do mensageiro como meio de comunicação só começou a modificar-se em meados do século XIX com o aparecimento do telégrafo elétrico disponibilizado ao público em geral e mais para o final do mesmo século pelo aparecimento e generalização do uso do telefone.

Nos primeiros séculos da nacionalidade os mensageiros que percorriam e enxameavam as estradas no país compreendiam as seguintes profissões: os “correios reais” que asseguravam a transmissão dos despachos da coroa, os almocreves, indispensáveis para o transporte de mercadorias, os barqueiros, necessários para permitir a transposição dos rios, dada a ausência de pontes, os caminheiros que transportavam as mensagens a pé., os cavaleiros e, finalmente, os carreteiros que asseguravam os transportes dee mercadorias mais pesados com carretas.[9]

Este conjunto de mensageiros  já era bastante numeroso[10] mas para que muitas das mensagens chegassem, como se pretendia aos destinatários,  que em larga maioria eram analfabetos, tinham que intervir os pregoeiros para completar o processo, lendo as disposições régias nas localidades a que se destinavam.[11]

Em Portugal também se organizaram os serviços dos correios, a partir de 1520, com a criação do cargo de correio-mor; em 1606, no reinado de Filipe II, os correios foram privatizado e volltaram, em 1793 para as mãos do Estado.[12]

De acentuar que na Idade Média em Portugal, durante a Reconquista  cristâ, e nos anos seguintes marcados pela necessidade de ter em conta a ameaça do poderoso reino de Castela, não se utilizavam, com fins militares, apenas mensageiros, mas antes um conjunto de meios que se podem resumir no seguinte:
“Recorrendo aos tradicionais batedores, contratando os serviços de “espias e enculcas”, usando mão de técnicas de comunicação visual (sinais de fogo e fumo (almenaras), bandeiras, movimentos codificados) ou auditiva (sinos, trombetas, buzinas, cornos), servindo-se de emissários especiais – a nado ou por terra – operavam verdadeiros milagres para entregar ou recolher as suas mensagens, ou ainda recorrendo a expedientes muito variados  (inclusão de pequenos papeis em projécteis neuro-balísticos, uso de senhas e palavras-chave e quiçá a velozes pombos-correios[13]), o chefe militar da Idade Média procurou assim, controlar o espaço e o tempo, as duas valências nucleares da guerra de todos os tempos.”[14]

Para terminar resta-me apresentar o exemplo de um notável mensageiro português que deu a notícia da vitória portuguesa em Aljubarrota e que Fernão Lopes relata assim:

“E sendo terça feira e muita gente estivesse à tarde na Sé para rezar a salve Rainha, como de costume, chegou um moço João Martins Cozinho, morador em Alenquer , que fez saber aos da cidade que tomassem mui grande prazer. porque ficavam certos que el-Rei seu senhor houvera batalhar com el-Rei de Castela e o desbaratara e vencera em campo.”[15]

O jovem percorreu 135 km em perto de 24 horas, o que fez desconfiar os presentes, e é uma distância quase quatro vezes superior à da Maratona…


[1]  Apenas conheço, nas Transmissões, apenas algumas linhas escritas sobre Mensageiros  Notas do coronel Bastos Moreira.

[2] Uma das vantagens do Blogue é precisamente a de permitir publicar trabalhos que possam ser melhorados com outros contributos.

[3] As duas obras referidas são:

  • PEHRSON, Gerard The Early History of Data Networks , 1994
  • COELHO, Maria Helena da Cruz (coord.), As Comunicações na Idade Média. Fundação Portuguesa das Comunicações, Lisboa, 2002.

[4]  Isto significa que os sistemas de telegrafia ótica, não podiam ser anteriores aos mensageiros, que permitiam, antes da escrita, a troca de mensagens verbais.

[6] PEHRSON, obra citada pág. 10.

[7] Idem pág. 12. A descrição é do historiador Xenofonte.

[8] Idem pág.13

[9] Carros puxados por juntas de bois

[10] MACEDO, Jorge Borges, no Dicionário da História de Portugal,de SERRÂO, Joel, indica as seguintes existências em Portugal: 5438 almocreves em 1867, 4 000 barqueiros em  1811 e 9272 carreteiros em 1869. De acentuar que se trata de um conceito de mensageiro mais amplo, que o identifica com o transportador não apenas de mensagens mas também de outros bens e até de pessoas.

[11] Esta leitura era testemunhada para garantir que a leitura dos despachos era executada.

[12] MACEDO, obra citada, entrada “Postas e Correios”. Em 1606 o cargo de correio-mor foi vendido a Luís Gomes da Mota por 70.000 cruzados.

[13] No texto anterior esclarece-se que na Reconquista só há notícia do uso dos pombos-correios pelos muçulmanos.

[14] COELHO obra citada pág.187.

[15] Idem pág. 185

HF-156

Post do nosso leitor Sr. João Freitas, recebido por msg:

Iremos relembrar um transmissor-recetor usado pelas nossas forças armadas, fundamentalmente pelo exército e marinha (Fuzileiros) durante a Guerra Colonial de 1961/74. Hoje em dia, apesar de várias referências e dos dois manuais em português, já poucas pessoas se lembram do “HF-156”, um dos últimos aparelhos da família inglesa “Larkspur” (*), do qual recebe os botões de comando, tão característicos desta série de rádios.

Este aparelho é importante, não só por ter passado pelas costas dos nossos militares, mas porque é considerado como o ultimo rádio, totalmente a válvulas** (15) de transporte ao dorso, produzido no Ocidente. Extremamente robusto, totalmente feito em liga leve, é de imediato reconhecido pela enorme bobine de acoplamento de antena exterior, fixada num dos seus lados. Como inconvenientes principais, temos o seu volume e peso (perto dos 16Kg).

Equipado com um “miolo” eletrónico simples e clássico, estamos tentados a advogar a ideia de um historiador das comunicações militares na “ilha de sua majestade”, que nos diz que o “HF-156” estava destinado a exércitos de 2ª escolha. Realmente todos os exemplares que vimos, não primam por um acabamento de base esmerado. A liga da caixa exterior, geralmente mal fundida e em maus moldes, era corrigida com soldadura posterior e rebarbadora, havendo também pouca qualidade nos componentes eletrónicos (ex. condensadores e resistências).

O peso deste “guarda-fato” advém não só da sua caixa exterior, tão forte e de paredes tão grossas que a tornava pesada. Como veremos, também as duas fontes de alimentação, possíveis, contribuíam para o peso final. Para fornecer as diversas tensões, necessárias a um rádio a válvulas, estavam previstos dois sistemas, um, com base numa pilha de várias tensões (com um adaptador) e um outro com base em duas baterias ácido/chumbo ligadas a um conversor. Será desnecessário referir que as duas soluções não eram leves, com a agravante da versão com baterias, ser penalizada pela possibilidade do ácido se libertar sobre os componentes eletrónicos, a liga do rádio e as costas do utilizador! É esta a razão, pela qual raros são os modelos que chegaram aos nossos dias sem terem a sua parte inferior em muito mau estado, devido a corrosão profunda.

O “HF-156” funcionava em amplitude modelada com seis frequências fixadas por cristal, na gama compreendida entre os 2,5 Mc/s e os 7,5 Mc/s . Equipado com o seu saco de lona verde e vários sistemas de antena, tinha como periféricos auscultadores e microfone (integrados numa mesma armação), ou micro auscultador, elementos que encontramos adotados pela quase totalidade dos rádios de origem Britânica dos anos 50/60. Será curioso referir a fraquíssima qualidade dos vários tipos de borracha empregue na manufatura deste tipo de acessórios e na generalidade dos isolamentos dos cabos elétricos. Hoje em dia a reconstrução de um rádio militar (a válvulas) de origem inglesa, impõe o uso de cuidados acrescidos, só sendo possível a recuperação de periféricos, com a aplicação de cabos novos. O mesmo se passa com a generalidade de toda a cablagem interna.

Portugal recebeu para o Exército conjuntos de “HF-156” no ano de 1962, que se devem ter mantido em utilização até ao final dessa década sem reparos de maior. Um ou dois anos mais tarde, os nossos Fuzileiros vêm também a utilizar este tipo de rádio. De facto são os aparelhos oriundos da Marinha de Guerra os que, exteriormente, encontrámos em pior estado com enormíssimos sinais de corrosão motivada, como referimos, pelo ácido das baterias, mas também pela água salgada e consequentes anos de armazenamento como sucata.

No nosso país, para além dos manuais originais, foram editados pelo menos mais dois em português, um dirigido á sua operação e outro dedicado á manutenção e reparação técnica.

João Freitas

(artigo adaptado de um original publicado na revista “QSP”)

(*)   Em Inglaterra os rádios militares são identificados, ao longo dos anos e sucessivamente, por grandes “famílias” e dentro desses grupos por números. Poderemos considerar isto uma regra. Assim, os aparelhos feitos durante os anos 30 e 40 (Segunda Guerra Mundial) pertencem ao grupo “Wireless Set”. A esta série segue-se o grupo “Larkspur” que estaria em vigor durante as décadas de 50 e 60. É a esta série que pertence o aparelho de que falamos. Posteriormente e até aos nossos dias outros grupos têm aparecido.

(**) Apenas a unidade osciladora para a alimentação (versão utilizando 2 baterias de ácido/chumbo), utilizava dois transístores “OC35”